Capa do livro "Fla-Flu... E As Multidões Despertaram!"

Fla-Flu… E As Multidões Despertaram!

Um clássico sobre o mais charmoso dos clássicos. Assim podemos definir “Fla-Flu… E As Multidões Despertaram!”, coletânea de crônicas dos irmãos Mário Filho e Nelson Rodrigues sobre Flamengo e Fluminense. Organizado por Oscar Maron Filho e Renato Ferreira, o livro foi lançado em 1987. Ele é, portanto, um daqueles diamantes que a gente acha garimpando nos sebos da vida (e ainda bem que a internet facilita muito esse tipo de busca).

O livro é mais do que uma simples reunião de textos. Ele é uma homenagem à paixão. Paixão dos organizadores da obra pelos seus clubes. Paixão dos irmãos Rodrigues pelo futebol. Paixão de todos os torcedores por um clássico que, a qualquer tempo, tem um sabor especial. Os outros que me desculpem, mas Fla-Flu é diferente. Tem uma atmosfera própria, uma aura característica.

 

Flamengo e Fluminense: uma paixão em família

Nelson Rodrigues e Mário Filho contribuíram diretamente para fomentar a magia do clássico entre Flamengo e Fluminense. Em uma época em que a objetividade do jornalismo muitas vezes se rendia ao lirismo da literatura, eles transformaram o que seriam simples relatos de partidas em narrativas épicas. Se todo torcedor que se preza sabe que futebol é muito mais do que um esporte, esses dois monstros sagrados do jornalismo esportivo sabiam exprimir tudo isso como poucos.

E foi essa paixão que inspirou o rubro-negro Oscar Maron Filho e o tricolor Renato Ferreira a fazerem a coletânea. Em 1980, ainda na faculdade, a dupla fez uma entrevista com Nelson Rodrigues exatamente para que ele falasse sobre a mística que envolve o clássico mais apaixonante do futebol brasileiro.

Encantados pela conversa e pelas histórias de Nelson, Maron e Ferreira assumiram uma missão: resgatar as crônicas dos irmãos Rodrigues sobre Flamengo e Fluminense. Essa seria a última dada por Nelson Rodrigues. Poucos dias depois, em 21 de dezembro de 1980,  ele faleceria aos 68 anos de idade, vítima de complicações cardíacas e respiratórias.

Para que o projeto virasse realidade, foram necessário cinco anos de pesquisas entre arquivos da Biblioteca Nacional, jornais, revistas e arquivos públicos ou particulares. E o trabalho é um golaço. São mais de 60 crônicas de Nelson e Mário, ilustradas por cerca de 200 imagens. Cada texto é uma verdadeira obra de arte e trazem muitas  frases e expressões históricas que povoam o imaginário de todo torcedor-raiz.

Nelson era torcedor declarado do time das Laranjeiras. Já Mario Filho – que empresta seu nome ao Estádio do Maracanã – era um rubro-negro tímido. Ou melhor: não-assumido. Em várias ocasiões, demonstrou seu amor ao clube da Gávea e foi autor de “Histórias do Flamengo” – considerada uma das maiores obras já escritas sobre o Mais Querido do Brasil.

Apesar das respectivas preferências, os dois escreviam apaixonadamente tanto sobre o Fla quanto sobre o Flu. Era comum ver os dois torcendo nos estádios (Nelson de forma fervorosa Mário, de forma mais discreta, para não “dar bandeira”). E no dia seguinte, a crônica no jornal era carregada de tinta, de amor, de magnetismo. 

Alguém imagina que isso seria possível hoje em dia? Vivemos um tempo onde, em nome de uma falsa imparcialidade ou um respeito fajuto, qualquer demonstração de amor dos setoristas por seus clubes de coração é condenada e massacrada. Em compensação, o ódio e o ranço por um clube são permitidos, incentivados e largamente aceitos.

Pode parecer saudosismo (e é mesmo). Mas para quem quer ir além do reme-reme que as mesas-redondas trazem atualmente, Nelson Rodrigues e Mário Filho são obrigatórios. Mais do que isso: eles são fundamentais.

Nelson via em cada partida de futebol um espetáculo teatral – com seus personagens, dramas e atos característicos. Já Mário assistia aos jogos com a ótica de um poeta, de um romântico apaixonado pela beleza do jogo e fascinado pelas multidões. Diferentes visões com igual amor pelo Fla-Flu, termo que os dois ajudaram a popularizar e – por que não dizer – eternizar.

Daí a importância de ler e reler livros como “Fla-Flu… E As Multidões Despertaram!”. Simplesmente porque cada página exprime com perfeição a essência do futebol. E claro: do próprio Fla-Flu.

A origem do
termo Fla-Flu

Muita gente atribui a invenção do termo Fla-Flu aos irmãos Rodrigues. No entanto, isso não é verdade.

O termo Fla-Flu foi usado pela primeira vez em “O Jornal”, extinto periódico do Rio de Janeiro. E por incrível que pareça, não foi para se referir a uma partida entre Flamengo e Fluminense. A expressão foi usada simplesmente para denominar a seleção carioca, que na ocasião, reuniu apenas jogadores dos dois times. Algumas fontes indicam que isso aconteceu em 1925, mas pesquisando nos arquivos digitais da Biblioteca Nacional, a Estante Rubro-Negra achou o registro somente na edição número 2406, do dia 14 de outubro de 1926. 

Já nos anos 30, Mário Filho e Nelson Rodrigues ajudaram a popularizar o termo. Além de traduzir a mística do clássico entre os dois clubes cariocas, Fla-Flu passou a ser usado também como sinônimo de rivalidade. É comum que a expressão seja usada para designar alguma disputa, seja ela política ou ideológica. No Rio Grande do Sul, Fla-Flu também foi adotado para já era usado no Rio Grande do Sul desde os anos 1950 e 60 para denominar o jogo de totó (também conhecido como pebolim).

Flamengo X Fluminense: emoção garantida

 Marcelo Cortes/Flamengo

Não interessa que seja ou não um grande jogo. Só as partidas medíocres precisam ter qualidade. O Fla-Flu vale emocionalmente. Ou por outra: é Fla-Flu e basta.

Nelson Rodrigues em “A grã-fina das narinas de cadáver”

O amor do povo pelo Flamengo, como que secreto, desabrochou com a força de uma primavera. Deu para aparecer Flamengo por todos os lados. Parecia uma praga.

Mario Filho em “Epidemia de Fla-Flu”

Os Autores

Oscar Maron Filho e Renato Ferreira foram colegas de faculdade. Ainda estudantes, decidiram entrevistar Nelson Rodrigues. Durante a entrevista, Nelson fez várias referências aos textos do irmão, Mário Filho e da paixão pelo Fla-Flu que ambos compartilhavam.

Foi assim que os irmãos Rodrigues se tornaram personagens centrais nos trabalhos que realizaram juntos. Além do livro “Fla-Flu… E As Multidões Despertaram”, juntos eles também fizeram o vídeo “Fla-Flu, Ai Jesus” e o curta-metragem “Fla X Flu: À Sombra das Chuteiras Mortais”. Oscar Maron Filho fez também o documentário Mário Filho – O Criador de Multidões”.

Curiosidades

– O nome do livro foi inspirado numa famosa frase de Nelson Rodrigues: “O Fla-Flu não tem começo. O Fla-Flu não tem fim. O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada. E aí então as multidões despertaram.”

– Para o livro, os organizadores realizaram uma pesquisa que reuniu cerca de três mil crônicas e 15 mil fotos.

– O livro teve tiragem limitada e foi produzido com patrocínio da Xerox do Brasil. Não chegou a ser vendido em livrarias e teve renda revertida para projetos sociais.

FICHA TÉCNICA

EDITORA: Edição Europa

ISBN: –

EDIÇÃO:

ANO: 1987

FORMATOS DISPONÍVEIS: Impresso (encontrado em sebos e livreiros)

  • CUSTO-BENEFÍCIO (LIVRO FORA DE LINHA) 100% 100%
  • DESIGN/CONTEÚDO 95% 95%
  • QUALIDADE 100% 100%