Outro Patamar

O ano é 2019. Enquanto o Flamengo convencia e encantava em campo, Téo Benjamin fazia o mesmo no Twitter.

Com visão detalhista, muito conhecimento tático e linguagem descomplicada, ele destrinchava as partidas do Mais Querido através de tweets que valiam bem mais a pena do que horas e horas de resenhas esportivas por aí.

O time virou sensação, as análises de Téo também. Muitos seguidores passaram a pedir para o conteúdo se transformar em livro. E assim surgiu “Outro Patamar”.

Produzida a partir de um crowdfunding (nome bonito para ‘vaquinha virtual’), a publicação é altamente recomendável para quem gosta de futebol. Para quem é rubro-negro, ela é obrigatória.

Subindo o patamar dos livros sobre 2019

Torço para que tenhamos outros “anos mágicos” daqui para frente. Além dos motivos óbvios da torcida, anos assim dão uma boa encorpada na Estante Rubro-Negra e isso é sempre muito bom.

Sendo como foi, é claro que 2019 renderia também muitos títulos literários.

Só o Flamengo já lançou duas publicações oficiais: “2019, o ano eterno – as conquistas do Flamengo em imagens” e “Vencemos juntos – o futebol do Flamengo em 2019”, sem contar o álbum de figurinhas “Orgulho de ser rubro-negro”.

Mas verdade seja dita: Téo Benjamin subiu muito patamar de tudo que já foi publicado sobre o Ano Mágico.

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Outro Patamar: o prefácio do livro é do craque Éverton Ribeiro

A começar pelo prefácio, escrito por ninguém menos que Éverton Ribeiro, o homem, o miteiro, o gênio, marido da rainha Marília Nery, pai de Baby Guto e Baby Tony, enfim, o dono da p… toda.

Durante a produção do livro, ele atiçava a imaginação sobre o que viria. Para isso, enviava e-mails a todos que contribuíram no financiamento coletivo, detalhando o estágio em que publicação estava.

A escolha da capa, por exemplo, foi colaborativa. A “Copa das Capas” rolou em formato mata-mata e os apoiadores puderam votar e escolher entre quatro opções de layout.

Rolou também aperitivo, liberando a leitura da análise do baile mulambo de 5×0 contra o Grêmio, na semifinal da Libertadores. O texto foi resultado de cinco “fios” que Téo fez no Twitter sobre o jogo.

Cincum para lá, cincum para cá e a ansiedade pelo livro já era grande. Storytelling que chama, né?

Por que fiz questão de falar disso aqui? Porque essa é uma característica que fica bem clara no livro: Téo Benjamin contextualiza o que escreve.

Você não sabe o quanto eu caminhei para chegar até aqui

O contexto é muito importante para entender o que muita gente acaba esquecendo: a jornada até 2019 foi longa e árdua.

Esse é um dos principais pontos que fazem desta uma leitura obrigatória para os rubro-negros: o autor revê os caminhos que levaram o Flamengo aos títulos expressivos, dividindo o livro em duas partes.

Na primeira parte (A longa caminhada), Téo mostra o que foi feito pelo clube para arrumar a casa e voltar a ocupar seu lugar no futebol brasileiro: o de protagonista.

Afinal, é mole querer ser o Flamengo de 2019. Ninguém queria ser o Flamengo de 2013, que priorizou o planejamento e a responsabilidade orçamentária acima do imediatismo que domina por aqui.

Aí, dá mais orgulho ainda, pois fica claro que não teve acaso nos gols do Gabigol na final contra o River. Eles vinham sendo desenhados há anos na pranchetinha tática dos Deuses do Futebol.

Já na segunda parte (Rumo à glória eterna), aulas e aulas. É simplesmente sensacional ler os textos ao mesmo tempo que um filme sobre tudo que está sendo falado ali passa na cabeça.

Tivemos o privilégio de ser testemunhas oculares de um dos capítulos mais gloriosos no grande livro da História do C.R. do Flamengo. E o Téo Benjamin é o “historiador”.

E ver um trabalho tão sério faz a gente se perguntar: por que raios as resenhas da mídia não são tão boas e abrangentes?

Que prazer é ler suas análises, entender os conceitos, ver os desenhos tão cuidadosos dos campinhos para detalhar as variações táticas da trajetória.

A obra consegue ser leve e profunda, tipo um contra-ataque da Era JJ.

Fotos do livro: Téo Benjamin

 Também é bom saber que nem tudo que surge numa rede social é discurso de ódio, intolerância, futilidade ou caçada inveterada por curtidas. Téo Benjamin engaja fazendo o oposto de tudo isso e seu livro é resultado direto da qualidade do seu trabalho e seu amor pelo Flamengo. Nem tudo está perdido. Flamém!

Para completar, o posfácio do livro fala sobre o dia mais duro, triste e doído da história rubro-negra: a tragédia que levou nossos dez Garotos do Ninho. E aí, o autor dá mais uma aula. Aula de posicionamento, sensibilidade, rubro-negrismo de verdade. Não esquecemos. E não esqueceremos nunca.

Por essas e outras, fica a dica. Sei que se conselho fosse bom, não seria dado de graça e ainda teria multa rescisória de milhões de euros. Mas, ainda assim, se você gosta de ler, curte futebol e ama o Flamengo, não deixe de ter esse livro.

Se você precisar escolher só um livro sobre 2019, pode optar por “Outro Patamar” sem medo de ser feliz. Embora o título tenha relação com a frase eternizada pelo Bruno Henrique, a verdade é que o conteúdo também faz jus a ela.