125 curiosidades sobre o Flamengo (parte 2): personagens

por | nov 29, 2020 | Especiais, Prateleira

Como parte das comemorações pelos 125 anos do Flamengo, a pesquisa continua a todo vapor na Estante Rubro-Negra. Os livros, recortes e revistas vão sendo explorados para trazer 125 curiosidades sobre o Mais Querido.

No segundo post da série, trazemos 25 personagens rubro-negros que, de um jeito ou de outro, contribuíram com o Flamengo e fazem parte da história do clube.

Entre vivos e já falecidos, a ideia é trazer nomes que não podem ser esquecidos. Também é importante ressaltar que alguns tópicos da lista trazem não um, mas duas ou mais pessoas que, juntas, ficaram marcadas de forma indissociável no Flamengo.

A lista não é cronológica, nem está organizada em ordem alfabética. É subjetiva e, portanto, sujeita a críticas ou discordância.

Apesar disso, ela traz nomes que não podem ser contestados em relação ao aspecto mais importante: a identificação com as nossas cores.

Flamengo 125 anos: curiosidades sobre o clube
Torcida do Flamengo

A torcida

O personagem número 1 não podia ser outro, além dela: a torcida rubro-negra. A Magnética. A Nação. Ninguém fez e faz tanto pelo clube quanto ela. O Flamengo é gigante porque é o espelho da sua torcida. 

Dirigentes, atletas, comissões técnicas passam. Individualmente, os torcedores também. Mas a torcida, a personificação coletiva, permanece. As torcidas são o coração dos clubes. No caso do Flamengo, a torcida é o coração, o corpo, o sangue e, acima de tudo, a alma. 

Esse personagem, uma das mais poderosas entidades do futebol brasileiro, foi brilhantemente descrito por Luiz Ayrão, cantor rubro-negro, na canção “Flamengo Maravilhoso”, adaptação do clássico “Cidade Maravilhosa”. 

Belíssima homenagem ao clube e à maior torcida do planeta.

Do asfalto e do morro, de Deus e do povo. Torcida do Flamengo é o maior personagem do clube.
Torcida do Flamengo, o maior patrimônio do clube

Flamengo Maravilhoso

Vamos fazer desse samba…
Oração.
E do clamor dessa massa…
Procissão…
Vamos buscar no sonho,
Na filosofia, na ciência e na magia
Explicação pra essa religião…
Flamengo…
Não há palavras com que eu possa definir
O que é Flamengo…
Não há palavras com que eu possa exprimir
O que é ser Flamengo…
A gente só pode sentir

Flamengo da dona de casa
Do povo sofrido, do trabalhador
Flamengo do jovem esperto
Da moça bonita e do meu amor
Flamengo do sul e do norte
De todos os cantos, de toda Nação
Flamengo do asfalto e do morro
De Deus e do povo e do meu coração

Flamengo maravilhoso
Cheio de encantos mil
Flamengo maravilhoso
Campeão do meu Brasil

Baiano

Baiano foi, por assim dizer, o primeiro nome da galeria de heróis rubro-negros.

Foi ele que, durante o naufrágio ocorrido na primeira viagem da Pherusa, enfrentou o mar agitado a nado para buscar ajuda.

Horas depois, Baiano voltou com socorro, resgatando os amigos e a embarcação. A Pherusa foi o primeiro barco do Fla, criado pouco tempo depois por esse grupo de amigos. 

Em 2019, no livro “Seja no mar, seja na terra”, o jornalista e escritor Roberto Assaf conseguiu identificar o verdadeiro nome de Baiano, nunca identificado com exatidão. 

Joaquim Leovigildo dos Santos Bahia é o nome dele. O homem que impediu o Flamengo de afundar antes mesmo de ter sido fundado.

Anselmo

Quando o Flamengo já tinha garantido a conquista da América pela primeira vez, coube a José Antônio Cardoso Anselmo Pereira garantir a alma lavada. 

O atacante, natural de Nova Friburgo (RJ), saiu do banco para acertar um murro no zagueiro-carniceiro Mário Soto, no terceiro jogo da decisão da Libertadores de 1981, contra o Cobreloa (CHI). 

Em todas as partidas da decisão, Soto se destacou pela extrema violência contra os jogadores do Fla. Chegou a jogar com uma pedra na mão, abrindo os supercílios de Adílio e Lico.  

Após assegurar o título com o placar de 2 a 0, o técnico Carpegiani chamou Anselmo para entrar no fim do jogo e acertar Soco, ops, Soto.

Anselmo cumpriu o determinado com maestria (na imagem ao lado, a declaração do rubro-negro feita à edição 613, da Placar, em fevereiro de 1982).

Passa longe da Estante Rubro-Negra fazer qualquer apologia à violência. Mas não dá pra confundir a “reação do oprimido com a violência do opressor”. Então… Valeu, Anselmo!

Anselmo lavou a alma rubro-negra ao acertar Mario Soto

Reprodução/Placar ed. 613 – Ed. Abril

Carlinhos Violino

Conhecido pela fala mansa e pelo jeito pacato, Carlinhos foi um gigante rubro-negro. Como jogador e como técnico, gravou seu nome entre os melhores.

Verdade que Luís Carlos da Silva Nunes começou no Botafogo, onde jogou até os 15 anos. Mas Carlinhos encontrou seu lugar mesmo foi na Gávea, lugar onde chegou em 1953 e se consagrou como um dos maiores meio-campistas que o Mengão já teve. 

Armava e desarmava com elegância, fazendo o locutor Waldir Amaral compará-lo a “um violino tocando”. Era um ídolo da torcida nos anos 60 e encerrou a carreira em 1970, aos 33 anos. 

O Fla organizou um jogo de despedida, no Maracanã. Ao dar a volta olímpica na ocasião para se despedir da Magnética, foi seguido por ninguém menos que Zico.

Aos 17 anos, a então promessa do juvenil do Flamengo, recebeu as chuteiras do ídolo Carlinhos. Por obra do destino, o Galinho retribuiu o presente. Zico entregou a ele a camisa do seu último jogo pelo Kashima, contra o Flamengo. Carlinhos era o técnico rubro-negro na ocasião.

Aliás, como técnico, Carlinhos também mostrou a classe de sempre. Vez ou outra, assumia o time em momentos de crise e transformava as abóboras em carruagens que eram conduzidas aos títulos.

Foi assim na Copa União de 87, nos Cariocas de 91, 99 e 2000, no Brasileiro de 1992 e na Copa Mercosul de 1999.

Na despedida de Carlinhos, suas chuteiras foram entregues a um jovem que despontava na Gávea: Zico

Reprodução/Placar ed. 916 – Ed. Abril

Erica Lopes, a Gazela Negra do Flamengo

Érica Lopes

“Gazela Negra, corre o tempo no olhar”. Neste verso, o inesquecível samba da Estácio de Sá de 1995, em homenagem ao centenário do Flamengo, também celebra Érica Lopes.

Ela é, ninguém mais, ninguém menos, que o nome mais importante do atletismo rubro-negro de todos os tempos, onde conquistou o bicampeonato estadual feminino em 1960 e 1961 e duas edições do Troféu Brasil, em 1962 e 1965. 

Dominou as provas de 100 e 200 metros rasos nos anos 60, quando passou a ser conhecida como Gazela Negra pela enorme velocidade que alcançava. 

A Gazela Negra Érica Lopes
O "Ladrilheiro do Maracanã" marcou a decisão do Carioca de 1981

O Ladrilheiro do Maracanã

“Apanhei um pouco, mas valeu a pena”. O ladrilheiro Roberto dos Passos Pereira definiu com essas palavras um dos episódios mais inusitados da História do Maracanã e do Flamengo.

Era o terceiro e decisivo jogo da final do Carioca de 1981 e o Vasco precisava do empate para ser campeão (após vencer as duas primeiras partidas). Ao Fla, bastava a vitória. Com 2 a 0 no placar, o rubro-negro viu o Vasco pressionar e marcar seu 1º gol aos 38 minutos do 2º tempo. 

Antes que qualquer possibilidade de reação vascaína viesse, quem veio foi Roberto…da geral. O torcedor rubro-negro driblou não só o fosso que separava o setor do campo como também os policiais que ali estavam, em teoria, para evitar a invasão de torcedores. 

No campo, Roberto foi agredido por Gilberto, jogador vascaíno, e foi parar na cadeia do Maracanã. Após o jogo, o próprio advogado do Flamengo, Michel Assef, foi tirá-lo do xadrez. 

E o “ladrilheiro do Maracanã” seguiu dali para o restaurante, onde o time comemorava o título estadual uma semana antes daquela que seria a maior de todas as conquistas do futebol do clube: o Mundial.

Cláudio Coutinho

Falando no estadual de 1981, após o título, o técnico Paulo César Carpegiani dedicou a conquista a Cláudio Coutinho, que o havia levado para a Gávea como jogador.

Coutinho foi preparador físico da Seleção Brasileira no tri de 70 e, seis anos depois, assumiu o comando técnico do Flamengo. Nessa primeira passagem, foi técnico até 1977, retornando ao clube no ano seguinte.

De 1978 a 1980, Coutinho trouxe conceitos modernos e dinâmicos aos treinamentos, implementando novos conceitos táticos que levaram o Flamengo ao tricampeonato estadual e ao primeiro título brasileiro, em 1980. Gostava de se inspirar em outros esportes, como o basquete e o boxe, para definir o estilo de jogo de sua equipe.

Cláudio Coutinho tinha ideias táticas revolucionárias

Deixou o rubro-negro após a crise gerada pela perda do tetracampeonato carioca em 1980 e foi para o Los Angeles Aztecs. 

Apesar disso, Coutinho foi o grande mentor do time que conquistaria a América e o Mundo. Mas não chegou a ver o show rubro-negro em Tóquio. 

Em 27 de novembro, ele morreu afogado enquanto praticava pesca submarina próximo às Ilhas Cagarras, no Rio de Janeiro. 

O esporte era um de seus hobbies e naquele dia, Coutinho buscava um peixe para o jantar marcado com alguns amigos (parte deles, jogadores do Flamengo). Sua morte foi muito sentida por todo grupo rubro-negro e Coutinho foi velado no Morro da Viúva (antiga sede do clube). 

Padre Góes

Luiz Gonzaga de Campos Góes, o Padre Góes, assumiu o comando da igreja de São Judas Tadeu, no bairro do Cosme Velho, em meados dos anos 40. 

E, como contamos anteriormente, ele foi o grande responsável por estabelecer a relação entre São Judas Tadeu e o Flamengo, quando praticamente “profetizou” os títulos que culminaram na conquista do terceiro tricampeonato carioca do Mengão, em 1953-54-55.

Góes costumava rezar as missas com a camisa rubro-negra por baixo da batina.

Padre Góes foi um grande rubro-negro

Marilene Dabus

Uma pioneira, mulher à frente do seu tempo, rubro-negra apaixonada, a primeira mulher a fazer cobertura do futebol no Brasil. 

Tudo isso pode ser usado para explicar quem foi Marilene Dabus. Em 1969, ela alcançou fama repentina, após participar de um programa de perguntas e respostas na extinta TV Tupi. 

O tema escolhido para participar do programa? O Flamengo, sua maior paixão. O sucesso foi tão grande que Marilene passou a ser conhecida como a “Moça do Flamengo”. 

Logo depois, foi convidada a participar da cobertura esportiva para o Última Hora, extinto jornal carioca. Foi a primeira mulher a atuar no segmento esportivo, uma revolução para a época. 

Em 1971, foi dela a primeira entrevista feita com Zico, então apenas um menino que despontava como craque na Gávea. 

Nos anos 70, foi figura ativa da Frente Ampla pelo Flamengo (FAF), que levou Márcio Braga à presidência do clube. 

Ela foi figura ativa na gestão, atuando como a primeira assessora de imprensa e também na gestão social, criando o famoso “Baile do Vermelho e Preto” (que marcou época nos carnavais do Rio) e também a “Fla-Boutique”, primeira loja exclusivamente dedicada a comercializar produtos do Mengão. 

Ela faleceu no início de 2020, pouco depois do lançamento de sua biografia, lançada pela Editora Approach (Selo Museu da Pelada).

Marilene Dabus foi uma pioneira do jornalismo esportivo entre as mulheres

Divulgação / Ed. Approach 

Jayme e Laura de Carvalho

1942. Jayme de Carvalho queria ver o Flamengo campeão contra o Fluminense, em partida que seria disputada nas Laranjeiras.

Mais do que isso: ele queria ajudar o time de alguma forma. Convidou o amigo rubro-negro Manoel Jesuíno para um almoço e, durante a refeição, lançou a pergunta: “e se comprarmos uma faixa bem grande, pintarmos AVANTE FLAMENGO e depois do jogo pularmos pro campo para comemorar”?

Jayme e Laura de Carvalho, fundadores da Charanga

Assim foi feito. Jayme pintou a faixa o chão da sala, que ficou manchado com a frase. Não deixou que limpassem.

No dia 11 de outubro, Jayme, Manoel e D. Laura levaram a faixa para o Estádio tricolor. Penduraram na grade e ficaram torcendo fervorosamente. O empate em 1 a 1 deu o título ao Fla e os amigos invadiram mesmo o campo para dar volta olímpica com a faixa. Da torcida, vinham aplausos pela iniciativa. Do campo, os jogadores rubro-negros também abraçaram a ideia.

Daí em diante, Jayme passou a organizar a torcida. Alugava bondes, reunia os torcedores, fazia um carnaval. Em 1943, passou a levar instrumentos musicais e junto com outros flamenguistas, incentivava o clube de coração tocando marchinhas.

Assim nasceu a Charanga, a primeira torcida organizada do Brasil. O nome foi dado por Ary Barroso, que durante uma narração na Rádio Tupi, chamou atenção da desafinação do grupo: “não é um conjunto de músicos nem aqui, nem no caixa-prego; isso mais parece uma Charanga”.

Nos anos 60, Jayme ficou doente e não acompanhava mais a torcida que criou. Faleceu em 1976 e a partir daí, D. Laura passou a comandar a Charanga. Em 2009, D. Laura também nos deixou.

Mas o amor dos dois ao Flamengo e o pioneirismo da iniciativa fomentaram um traço muito característico da Magnética: a alegria de torcer e vibrar pelas nossas cores.

Flávio Costa

Nenhum técnico dirigiu o Flamengo mais vezes que Flávio Costa. 

Nascido em 1906, no bairro carioca do Estácio, Costa foi também jogador, tendo atuado profissionalmente apenas pelo Mais Querido, de 1926 a 1936.  

Como treinador, era considerado um grande estrategista e também um disciplinador. Foi o grande mentor do primeiro tricampeonato estadual conquistado pelo Flamengo, em 1942-43-44, arrumando o time com craques como Zizinho, Valido, Bria, Jayme, Domingos da Guia e Biguá.

O tricampeonato, conquistado com o histórico gol de Valido sobre o Vasco, teve campanha irretocável, com 44 vitórias e apenas seis derrotas.

Essa campanha o fez ser convidado para a Seleção Brasileira, mas continuou também como técnico rubro-negro (na época, não era necessário ter dedicação exclusiva para comandar o Brasil). Infelizmente, ficou marcado pela derrota na Copa de 50.

Mesmo após encerrar a carreira como treinador, Flávio Costa continuou ativo no Flamengo, onde participava intensamente da Boca Maldita (grupo de associados rubro-negros que, desde 1984, tem grande relevância na Gávea). 

Flávio Costa faleceu em novembro de 1999, pouco depois do aniversário do Flamengo.

Flavio Costa é o treinador com maior número de jogos comandando o Flamengo
Fleitas Solich foi outro treinador estrangeiro que revolucionou o Fla

Fleitas Solich

Também é importante destacar a figura de Manuel Fleitas Solich, técnico paraguaio que revolucionou o Flamengo nos anos 50.

Depois de passagens de destaque por clubes da Argentina e do Paraguai (além da própria seleção nacional do país), Fleitas Solich chegou ao Fla para fazer história. 

Ele foi contratado pelo presidente Gilberto Cardoso (na foto, junto com Solich), que havia ficado impressionado com o desempenho da Seleção Paraguaia que havia conquistado o campeonato sul-americano em 1953.

Conhecido como “El Brujo” ou “”Feiticeiro”, chegou reformulando a equipe e revelou jogadores como Evaristo, Zagallo e Dida – maior artilheiro da história do Fla na Era a.Z (antes de Zico).

Marcação pressão e time compacto em todos os setores para sufocar o adversário? Trocas de passes rápidos e movimentação constantes dos jogadores? Conceitos tão falados no futebol atual já eram adotados por Don Fleitas.

Graças a ele, o Flamengo encerrou um dos maiores jejuns de sua história e conquistou o tricampeonato de 1953-54-55.  Nessa primeira passagem pelo Flamengo, permaneceu até 1959, quando saiu para treinar o Real Madrid de Di Stéfano.

Voltou ao Flamengo em 1960, quando seguiu ganhando títulos e revelando nomes como Carlinhos e Gérson “Canhotinha de Ouro”.

“El Brujo” deixou o Fla e comandou novamente a Seleção Paraguaia. Mas voltou ao Mais Querido em 1971 para mais um feito. Foi ele o responsável por promover Zico aos profissionais do clube.

Meses depois, Fleitas Solich decidiu se aposentar. Permaneceu no Rio até falecer, aos 83 anos, em março de 1984.

Gilberto Cardoso

Gilberto Cardoso é apontado como um dos maiores presidentes do Flamengo. Sua paixão pelo clube era tanta que ele, literalmente, morreu pelo Fla.

Cardoso presidiu o rubro-negro de 1951 a 1955. Neste último ano, acompanhava um dos jogos da final do campeonato carioca de basquete.

O Flamengo perdia por um ponto até que, faltando três segundos para o fim da partida, Guguta acertou o arremesso que decretou a virada e a vitória flamenguista. 

A emoção foi tão grande que Gilberto Cardoso saiu do ginásio do Maracanãzinho passando mal e acabou morrendo a caminho do hospital.

Em sua homenagem, o Maracanãzinho acabou sendo batizado com seu nome. Também  dá nome a uma das ruas que foram o quarteirão do clube e tem ainda uma estátua na sede do clube, na Gávea.

Gilberto Cardoso, um presidente que morreu por amor ao Flamengo

Togo Renan Soares, o Kanela

Dinâmico, genial, poliesportivo. Quando se fala de Togo Renan Soares, é necessário usar pelo menos um desses adjetivos.

Como atleta, jogou futebol e pólo aquático. Como técnico, atuou não só nesses dois esportes, mas também no remo e no basquete, onde é uma das maiores referências brasileiras até hoje.

No futebol, ainda como técnico do Bangu, foi responsável por fazer Domingos da Guia sair do meio-campo para atuar na zaga. Comandou também o Botafogo em 1929 e 1936, além do Flamengo (entre 1948 e 49).

Na mesma época, também ficou à frente do time de basquete do Flamengo de 1948 a 1970. Nesse período, venceu 12 edições do Campeonato Carioca (dez delas de forma consecutiva). 

Foi também bicampeão mundial com a Seleção Brasileira em 1959 e 1963, além da medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960. Faz parte do Hall da Fama da Federação Internacional de Basquete (FIBA).

Kanela morreu em dezembro de 1992, aos 86 anos, logo depois de lançar sua biografia.

Celso Garcia

O flamenguista Celso Garcia era jornalista e radialista. Em 1967, ele resolveu assistir uma partida de futsal. O objetivo era ver de perto um jovem jogador que começava a fazer fama em um campeonato interno do River (pequeno clube localizado no bairro de Piedade, no Rio).

O tal garotinho fez chover em quadra, marcando nove dos 14 gols do seu time. Celso decidiu, então, que levaria o menino para o Fla a qualquer custo.

Convenceu a família, a quem conhecia de vista na vizinhança. E nem precisou se esforçar tanto para fazer o mesmo com o menino, um rubro-negro fanático.

Levou o menino à Gávea para um treino. Modesto Bria, a princípio, achou o pupilo de Celso Garcia muito franzino e precisou ser convencido a dar uma chance a ele.

Ao colocar o garoto em campo para jogar uns minutinhos, viu que o talento era inversamente proporcional ao físico do menino. E depois do show em campo, decidiu que ele deveria mesmo ficar no Flamengo.

O nome do jogador? Arthur Antunes Coimbra.

Celso Garcia foi o responsável por levar Zico para a Gávea
Buck transformou o remo rubro-negro

Buck 

Guilherme Augusto do Eirado Silva, o Buck, foi o responsável por comandar o remo do Flamengo na Era de Ouro do esporte no clube.

Buck ficou à frente do departamento náutico rubro-negro de 1963 a 1996, ano em que  faleceu. Com ele, o Mengão conquistou nove títulos do Troféu Brasil e 30 campeonatos estaduais. Defendeu a Seleção Brasileira em sete Jogos Olímpicos e 17 Mundiais, além de conquistar cinco medalhas de ouro em Pan-americanos. 

Buck é um ícone rubro-negro, uma lenda do esporte que deu origem ao Flamengo. Não por acaso, a sede náutica do Mais Querido tem uma estátua em sua homenagem. Em 2016, Marcos de Araújo Ribeiro e Helena Lara Resende lançaram o curta-metragem “Buck: O Monstro da Lagoa” em sua homenagem. Na época, o filme foi lançado na Gávea, no espaço dedicado à exposição interativa do clube.

Rômulo Arantes Júnior

Rômulo Duncan Arantes Júnior nasceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de junho de 1957.

Fez de tudo um pouco. Atuou como ator, músico, compositor e empresário, mas foi como nadador que alcançou mais destaque. Foi um dos maiores atletas da natação rubro-negra e professor do clube.

Filho do treinador Rômulo Arantes (que dá nome a uma das piscinas olímpicas da Gávea), ele começou a nadar aos 8 anos no Flamengo, que também era seu clube de coração.

Rômulo Arantes, um talento rubro-negro

Aos 15, esteve presente nos Jogos Olímpicos de Munique 1972, conquistando o recorde sul-americano nos 100 m costas e o quinto lugar no revezamento medley. 

Três anos depois, brilhou no Pan-americano no México, com 3 medalhas de bronze. Em 1978, Arantes alcançou um feito histórico na natação brasileira: a medalha de bronze nos 100m costas – a primeira do Brasil em mundiais. 

Nessa prova, aliás, ele foi recordista sul-americano por cerca de duas décadas. Encerrou sua carreira profissional em 1983, mas continuou dando aulas e participando ativamente da natação, chegando a vencer provas na categoria master. 

Dois anos antes, se formou em Administração e Marketing pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, onde também integrava a equipe de natação. 

Rômulo Arantes Júnior faleceu precocemente, dois dias antes completar 43 anos, devido a um acidente de ultraleve, em uma fazenda de sua propriedade, em Minas Gerais. 

Georgette Vidor

Em janeiro de 2020, Georgette Vidor retornou ao Flamengo, onde é Coordenadora Técnica da Ginástica Artística.

Entre idas e vindas, Vidor tem uma estreita ligação com o Flamengo. Teve sua primeira passagem no clube em 1980, onde permaneceu até 1983. Retornou em 1985, onde ficou até 1993. 

Teve novo regresso dois anos depois, como Supervisora Geral de Ginástica Artística e Técnica da equipe principal feminina do Mais Querido, considerada uma das principais do Brasil. 

Georgette Vidor, ícone da ginástica artística do Flamengo

Em 1997, durante uma viagem para uma seletiva, o ônibus que levava a equipe de ginástica artística do Flamengo colidiu com dois caminhões, na Via Dutra, em São Paulo.

O acidente feriu gravemente algumas atletas rubro-negras como Úrsula Flores e Beatrice Martins, além da própria Georgette Vidor que ficou paraplégica por causa dos ferimentos. 

Apesar disso, Vidor nunca se afastou do esporte, onde é uma das grandes referências no Brasil.

Tem mais de 40 títulos brasileiros conquistados no Fla e inúmeras conquistas estaduais com as equipes de base e adulta do Mengão. Tem muita, mas muita história no clube. 

Patrícia Amorim

Patrícia Amorim nasceu no dia 13 de fevereiro de 1969, no Rio de Janeiro (RJ) e é uma das maiores atletas da natação rubro-negra. 

Foi campeã brasileira 28 vezes nos 200, 400, 800 e 1.500 metros livres e estabeleceu 29 recordes sul-americanos de 1983 a 1989. Ela também foi aos Jogos Olímpicos de Seul 1988 e mesmo não tenho chegado às finais, foi recordista sul-americana nos 200 e 400 metros livres.

Críticas à parte, ela também entrou para a história do clube como dirigente, ao se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Flamengo no dia 7 de dezembro de 2009.

Luisa Parente

Luisa Parente nasceu no dia 1º de fevereiro de 1973 e chegou ao Flamengo aos seis anos. Nunca mais deixou o clube, onde ficou durante toda sua carreira de atleta.

Foi a precursora do sucesso da ginástica brasileira e colecionou títulos pelo Mengão, sendo campeã estadual, brasileira e sul-americana em todas as categorias (mirim, infantil, infanto, juvenil e adulto).  Ela também foi hexacampeã brasileira adulta.

Foi a primeira ginasta brasileira a participar de duas edições dos Jogos Olímpicos, em Seul (1988) e Barcelona (1992), conquistando ainda duas medalhas de ouro nos Jogos Pan-americanos de 1991.

Gaúcho

Luís Carlos Toffoli nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul, em 7 de março de 1964. Ganhou o apelido de Gaúcho na infância, em Goiás. Chegou nas categorias de base do Flamengo em 1982, após ser comprado junto ao Goiânia por indicação de Gilson Aguiar, o Mineiro (olheiro do Mengão por mais de 40 anos).

 Muito identificado com o Fla, Gaúcho não teve muitas chances ao chegar no profissional em 1985. Na época, Bebeto começava a despontar no clube.

Ó, que beleza! Mais um golaço do Gaúcho de cabeça

Gaúcho chegou tentou até atuar em outras posições no ataque, mas não conseguiu emplacar e acabou negociado com o XV de Piracicaba. Passou também pelo Grêmio, Verdy Kawasaki, Santo André e Palmeiras antes de voltar ao Flamengo em 1990.

Marcar gols com a camisa rubro-negra no Maracanã era um antigo sonho de Gaúcho. E felizmente, ele fez isso muitas e muitas vezes. Exímio cabeceador e artilheiro nato, ele caiu nas graças da Magnética por seu oportunismo como atacante e pela entrega nos jogos.

Gaúcho deu muitas alegrias à torcida rubro-negra, que sofreu bastante após ver o ídolo Bebeto trocar o Flamengo pelo Vasco no ano anterior.

Provocador e irreverente, ele deu início à moda de comemorar gols com coreografias que marcaram as conquistas do Carioca de 1991 e do Penta brasileiro no ano seguinte. Ele também foi campeão da Copa do Brasil em 1990. 

Gaúcho deixou o Flamengo em 1993 e faleceu em 2016, vítima de um câncer na próstata. Em 2001, fundou o Cuiabá, que faz boa campanha na Série B em 2020.

Gaúcho não era técnico, mas era um artilheiro nato

Reprodução/JB – 31.05.1992

Rogério Steinberg

Rogério Steinberg não foi atleta nem treinador do Fla. Torcedor apaixonado do Fla, ele ficou conhecido por marcar “gols” em outra esfera onde o rubro-negro também sempre fez sucesso pelo pioneirismo: o marketing esportivo.

Nascido em 1952, Steinberg foi um premiado publicitário no Brasil e é considerado um dos grandes responsáveis pelo retorno de Zico ao Flamengo, após passagem pela Udinese. Foi ele a mente brilhante que idealizou e viabilizou o Projeto Zico, iniciativa pioneira e até hoje sem precedentes no futebol brasileiro.

Com o Projeto, Rogério Steinberg captou verba de empresas como a Adidas, a Coca-Cola e a Sul-América Seguros e trouxe o Galinho de volta à Gávea. Como contrapartida, a imagem do jogador foi usada em uma série de eventos e peças publicitárias.

Rogério Steinberg fez um projeto inovador para trazer o Galinho de volta à Gávea

Reprodução/ Site: rogeriosteinberg.com.br

Entre as realizações do Projeto, a extinta Rede Manchete exibiu um especial na TV que contava a história de seis fanáticos pequenos torcedores do Fla e que iam à Itália para buscar seu ídolo.

Além do especial, foi realizado também um amistoso que contou com a participação de craques como Falcão, Rummenigge e o recém-falecido Maradona.

O “Projeto Zico” foi premiado no Festival de Vídeo em Nova Iorque com a medalha de ouro na categoria de programas destinados a crianças. 

Mas, infelizmente, Steinberg não viu essa conquista. Em outubro de 1986, ao voltar de um evento onde foi jurado, ele sofreu um acidente fatal com o carro, na estrada Araruama-Rio. 

Stuart Angel

Em 2019, quando a torcida do Flamengo conduziu o ônibus do clube ao aeroporto do Galeão para a viagem rumo à final da Libertadores, um detalhe chamou atenção de olhos mais atentos.

Na grade da base da Aeronáutica, a faixa com os dizeres “Stuart Angel vive” pontuava não só a lembrança, mas a luta deste rubro-negro.

Apaixonado pelo Fla e por esportes, Stuart Angel foi Stuart foi bicampeão carioca de remo pelo clube em 1964 e 1965. Estudante de Economia, Angel também era militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que ficou conhecido pelo sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em setembro de 1969.

Em maio de 1971, ele foi preso por agentes do Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica, que buscavam informações sobre Carlos Lamarca (líder da luta armada contra o Regime Militar).

Relatos de outros presos políticos dão conta que Stuart Angel foi covardemente espancado e amarrado pela boca ao cano de descarga de um veículo da Aeronáutica, com o qual foi arrastado até a morte. 

Seu corpo nunca foi encontrado. Dois anos depois, sua esposa também foi torturada e morta por agentes do DOI-Codi.

Sua mãe, a estilista Zuzu Angel, procurou incessantemente pelo corpo do filho, fazendo o caso repercutir internacionalmente.

Em 1976, ela morreu em um acidente de carro na saída do túnel entre a Gávea e São Conrado (e que hoje leva seu nome). Este ano, a Justiça brasileira reconheceu a culpa do Estado na morte de Zuzu

Pouco antes, quase cinco décadas depois do crime, a Justiça também havia emitido as certidões de óbito de Stuart Angel e de sua mãe com a informação de que foram mortos pela ditadura militar.

Stuart Angel vive

Jorginho

O funcionário mais antigo do Departamento de Futebol do Flamengo. Esse era Jorge Luiz Domingos, massagista do clube por 40 anos. 

Jorginho faleceu em maio deste ano, aos 68 anos, por complicações decorrentes da da Covid-19.

Ele era um ícone do clube e trabalhou também com a CBF, fazendo parte da delegação campeã da Copa de 2002. 

Jorginho chegou ao Fla em 1980, acompanhando a Era de Ouro rubro-negra, estando presente nos seguintes títulos: 

Ninguém foi mais vencedor que Jorginho na história do futebol do Flamengo

Flamengo / Alexandre Vidal

  • Campeonato Brasileiro: 1982, 1983, 1987, 1992, 2009 e 2019
  • Campeonato Carioca: 1981, 1986, 1991, 1996, 1999, 2000, 2001, 2004, 2007, 2008, 2009, 2011, 2014, 2017 e 2019
  • Copa do Brasil: 1990 (invicto), 2006 e 2013
  • Copa Ouro Sul-americana: 1996 (invicto)
  • Libertadores: 1981 e 2019
  • Mercosul: 1999
  • Mundial de Clubes: 1981
  • Recopa Sul-Americana: 2020
  • Supercopa do Brasil: 2020

Nenhum jogador ou dirigente foi tão vencedor no clube. Hoje e sempre, todo respeito e reverência a quem tanto se dedicou ao rubro-negro.

Nossos 10

Se 2019 ficou marcado por tantas conquistas em campo, o ano também vai ficar para sempre marcado pela página mais triste da história do Flamengo. 

Naquele dia 8 de fevereiro, o incêndio que atingiu as dependências do Ninho do Urubu levou de nós dez meninos, dez atletas, dez vidas repletas de sonhos. 

Quase um time inteiro de Garotos do Ninho. Perder Arthur Vinicius, Athila Paixão, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías é algo que ficará marcado para sempre.

E precisará ser sempre lembrado. Para que não se repita. Para que hajam respostas. Nós não esquecemos.

Nossos 10: tragédia precisa de respostas

Delmiro Júnior