Autor fala do livro sobre Índio, um dos maiores artilheiros do Flamengo

O carioca Fábio Henrique mora desde os cinco anos em João Pessoa (PB). Trabalhando como produtor de eventos, está prestes a fazer sua estreia como produtor e autor do filme e do livro sobre Índio, um dos maiores artilheiros do Flamengo.
Curiosamente, o projeto nasceu por causa da morte do jogador. Ao conhecer a história do atacante, Fábio sentiu vontade de se aprofundar ainda mais. O que seria somente um documentário, ele decidiu transformar também em livro:
“Fui ficando cada vez mais imerso na carreira de Índio e me senti na ‘obrigação’ de publicar um livro também”.
Ele contou mais detalhes sobre as duas produções que, com certeza, têm lugar na prateleira da Estante Rubro-Negra.

Índio, um dos maiores artilheiros do Flamengo, vai ser tema de livro e filme

Reprodução/Internet

ENTREVISTA

Fábio Henrique, autor e produtor do documentário/livro “Índio: o herói de 1957”

ERN: Você é produtor de eventos e acabou tomando contato com a história do Índio por conta do falecimento dele, o que fez nascer o seu projeto sobre o jogador. A princípio, você pensou em fazer os dois ou apenas o livro ou o filme? 
FH: Essa é a minha estreia no audiovisual e também escrevendo. A princípio, o projeto seria só um documentário. Mas aí eu fui ficando cada vez mais imerso na carreira de Índio e me senti na ‘obrigação’ de publicar um livro também. 
O documentário deve ser um média-metragem (com até 110 minutos) e o livro deve ter entre 200 e 250 páginas estritamente sobre sua carreira, passagens pitorescas e encontros do Índio com alguns fãs ilustres. 

ERN: Como está a produção das obras? Está recebendo algum apoio para produzir o livro e o filme?
FH: Estamos em pré-produção. Nesse projeto, conto com a parceria de Nelsinho Meira, um grande profissional de TV e com passagem por grandes grupos de comunicação da Paraíba. 
Até agora, nenhum apoio foi formalizado ainda. Mas estamos mesmo nessa fase de captar parceiros culturais e comerciais. 
O primeiro roteiro do filme está pronto, assim como a trilha sonora. A direção é de Lúcio Vilar, um dos grandes cineastas da Paraíba, realizador do nosso maior festival de cinema, o Fest Aruanda, já na sua 16a Edição. A narração do grande Luiz Carlos Vasconcelos, com sua voz genuinamente nordestina/paraibana. 

ERN: Como está sendo a pesquisa para o filme/livro? Pode falar das dificuldades que se deparou até o momento, informações surpreendentes que tenha descoberto etc? Têm recorrido mais a fontes escritas como livros e jornais ou depoimentos? Conseguiu contato com familiares do jogador? 
FH: Vou ter muita saudade da pesquisa, da descoberta da vida desse ídolo do futebol da Paraíba, o nosso primeiro craque que foi Aluísio Francisco da Luz, o “Índio”. Foi uma alegria e está sendo cada dia melhor. 

Acho que as dificuldades maiores são mesmo em função de estarmos falando de alguém que viveu seu auge nos anos 1950. Basicamente, temos muita foto para explorar, mas poucas imagens, o que as torna ainda mais especiais. As fontes iniciais foram mesmo a internet, até porque tudo se deu no início da pandemia e o clima era o pior possível, ninguém tinha nem ânimo para nada. Dei sorte de ter também uma contribuição muito bacana por exemplo de Emmanuel do Valle, Denys Presman e de Edu Coimbra que jogou com Índio no final da sua carreira no América e do Pepe, filho do Evaristo de Macedo.   
Ja foram sim alguns livros principalmente do universo rubro negro como: “A Nação” de Marcel Pereira e “Consagrado no Gramado” do Roberto Assaf. Teve ainda o “Zé Lins, Flamengo Até Morrer!” de Edilberto Coutinho e “Craques da Paraíba que Jogaram na Seleção Brasileira” do Prof. Luizinho Bola Cheia. 

Inúmeros sites pesquisados, destaco entre eles os sites Flaestatistica, Flamengo Alternativo, Imortais do Futebol e o site do projeto de memória do futebol do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, com informações de muito valor, principalmente para construção da linha do tempo do Índio. 
Consegui o meu primeiro contato com a família com o Frank Luz, um dos filhos de Índio, através do jornalista Emmanuel do Vale, que tinha escrito um texto fabuloso sobre a primeira turnê na Europa do Flamengo em 1951, ao qual Índio fez parte e foi destaque. 
A família de Índio recebeu muito bem o projeto em homenagem a ele, o que só me deixou mais motivado.       

ERN: Pode falar mais sobre o protagonista do seu projeto? Como ele começou no futebol e o que você destaca no Índio como personagem e ícone do esporte paraibano? 
FH: Apenas para começar: ele foi o quarto nordestino e o primeiro paraibano a vestir a camisa da Seleção. O primeiro paraibano a fazer gol pela Seleção e a ir a uma Copa do Mundo (1954). Só para citar o que foi Índio para o futebol da Paraíba, ele é o ínicio de tudo e o primeiro grande vitorioso. 

Como todo bom início, ele se deu na escola e na sequência nos times da várzea carioca. Foi jogar no Bangu e chega ao Flamengo em 1949. Sempre gosto de citar que “mirei no jogador e acertei o homem”. 

Não conheci Índio, mas por todos os indícios e depoimentos de quem conviveu com ele ou foi contemporâneo, dá pra saber que ele foi um cara extraordinário, um grande pai e um grande homem. E, de quebra, artilheiro e craque. E esse foi o “grande achado”. 

Foto: Reprodução/GE

Índio, um dos maiores artilheiros da história do Flamengo

Reprodução/Site Terceiro Tempo

ERN: Em sua opinião, Índio é o maior jogador da história da Paraíba? Considera que ele “abriu caminho” para outros craques que vieram depois? 
FH: Com certeza, está entre os mais importantes. Por ser o primeiro, e por toda sua carreira vitoriosa, ele sempre será lembrado. Não foi campeão do mundo pela seleção, esse posto até hoje é do Mazinho, mas sua passagem foi importante demais e, como já disse, decisiva para nosso futebol. 
Haveria Pelé sem o Brasil ter ido à Copa de 58? Haveria surgido o Rei do Futebol? Para que tudo isso tivesse acontecido, um paraibano de Cabedelo, marcou história com um gol salvador e com suas atuações impecáveis nas Eliminatórias de 1957.

Haveria Pelé sem o Brasil ter ido à Copa de 58? Haveria surgido o Rei do Futebol? Para que tudo isso tivesse acontecido, um paraibano de Cabedelo, marcou história com um gol salvador e com suas atuações impecáveis nas Eliminatórias de 1957.

ERN: Sem dúvida, iniciativas como o livro e o filme são essenciais para preservar a história do futebol brasileiro. Índio fez sucesso nos dois clubes mais populares do país. Atualmente, as pessoas aí na Paraíba conhecem o jogador e sabem quem ele foi? 
FH: Talvez só mesmo a imprensa esportiva da Paraíba tenha ciência de Índio e sua carreira. Para 90% da população paraibana ele é desconhecido e vai ser uma grande e grata surpresa, principalmente num ano de Copa do Mundo, saber que houve um artilheiro e craque paraibano do nível de Índio. A Paraíba, hoje, pode ter até três jogadores na Copa: Mateus Cunha, Hulk e Santos (goleiro do Flamengo, ex-Athletico) e isso é muito expressivo. Imagina para um paraibano e flamenguista descobrir que, ainda hoje, um conterrâneo é o artilheiro da maior goleada do Maracanã? Ou que um paraibano foi decisivo nas Eliminatórias de 57 que levaram à Copa de 58, onde o Brasil se tornou uma potência mundial no futebol? É esse o tipo de surpresa que os paraibanos terão.  

ERN: Você já tem contrato com alguma editora para lançar o livro ou ele será produzido de forma independente? Já é possível antecipar como será possível comprar o livro?
FH: O livro está 90% pronto, quero finalizar e aí, decidir como jogá-lo para o mundo. As opções são muitas, seja impresso ou para versão on-line. Tenho certeza que conseguiremos um grande parceiro para isso, principalmente pelo Índio e sua carreira. 
O livro, além de abordar a carreira de Índio, aborda também fatos e personagens que se conectaram com ele, como por exemplo: Ary Barroso, que tinha em Índio seu “jogador preferido”, além dos paraibanos: Zé Lins do Rego, que tinha um cargo no Flamengo a época que Índio chegou ao time profissional e o tratava carinhosamente de “o menino de Cabedelo” e de Togo Renan Soares, o “Kanela”, o cara que levou Índio do Bangu, para o Flamengo.     

Fotos: Reprodução/Site Terceiro Tempo

ERN: O Flamengo tem grandes jogadores nordestinos de destaque em sua história. Júnior, Dida e o próprio Índio são exemplos disso… Na sua opinião, isso ajuda a fortalecer a grande popularidade do clube no Nordeste? Você percebe que as pessoas aí têm orgulho do sucesso desses jogadores no clube mais popular do país?
FH: Flamengo e Nordeste têm uma ligação antiga e muito forte. Não é à toa que grande parte da sua torcida fora do Rio vem do Nordeste. A Paraíba tem, no mínimo, dois nesse hall de ídolos: Índio e o Maestro Júnior.  
Vejo isso sim como uma grande fonte de inspiração, especialmente para os mais jovens nordestinos.  

ERN: E você? É torcedor do Flamengo? Acompanha futebol? 
FH: Olha, vou te contar… Se esse projeto rolasse há uns 15 a 20 anos, nem sairia do papel. Eu sou carioca do Méier. Meu pai foi logo cedo para o Rio e morou lá por 35 anos. Quando retornamos à Paraíba, eu tinha 5 anos de idade. Meu pai era vascaíno e aí não teve jeito: me fez cruzmaltino.
Já fui de pegar um avião num dia e voltar no outro para assistir jogo do Vasco. Mas, como tudo na vida, foi uma fase. Meu pai faleceu em 2002; se ele estivesse vivo, não me deixaria fazer esse projeto kkk… Brincadeiras à parte, esse projeto de homenagem a Índio, encaro como um grande presente na minha vida, independente de torcida. Pode ser até um ironia do destino um projeto de um vascaíno para um ídolo rubronegro, mas encaro mesmo com muita alegria e profissionalismo, até mesmo por ser o meu primeiro documentário e, principalmente, sobre um ídolo do futebol e das duas das maiores torcidas do país. 
Acompanho também de perto os jogos do Botafogo da Paraíba. Batemos novamente na trave ano passado no acesso à Segundona, faltou muito pouco. 
O futebol da Paraíba já produziu grandes craques e fatos muito importantes. Em 1969, por exemplo, Pelé fez em João Pessoa o seu milésimo gol. E, em 1995, a Folha de S.Paulo publicou um caderno especial com a matéria: “Paraíba viu o verdadeiro milésimo gol; erro de contagem consagrou o Maracanã”. 
Em 1980, com Zico e cia, o “Belo” (apelido dado ao Botafogo-PB) ganhou do Flamengo por 2×1 em pleno Maracanã. Atualmente, temos o craque do Brasileirão (Hulk) e, ainda, Mateus Cunha e Santos em grande forma e com chances reais de ir a Copa.         

ERN: Como é a força do Flamengo na Paraíba? Até a bandeira do estado é vermelha e preta, acho que ajuda… Como é a atmosfera em dias de jogos do clube?
FH: Acho que a Paraíba é um dos estados nordestinos com maior torcida do Flamengo e o time jogou aqui várias vezes, o que só aumentou a euforia da torcida. E tem essa coincidência mesmo das cores da nossa bandeira com as do Flamengo. O detalhe fica por conta só do nome “NEGO” na bandeira, que remete ao político João Pessoa e à Revolução de 1930. Vira e mexe se escuta a frase: “a Paraíba é flamenguista”, em função dessa coincidência com as cores rubro-negras.   

ERN: Destaca alguma curiosidade?
Tem um fato curioso. Em 11 de maio de 1952, o Flamengo veio jogar pela primeira vez em João Pessoa. Índio já fazia parte do elenco. É uma passagem que ilustra bem o amor que ele sentia por Cabedelo e suas raízes, já que ele foi embora para o Rio aos 7 anos de idade. Índio veio a Paraíba com o Flamengo, mas pediu dispensa da partida para rever os familiares e amigos em Cabedelo, para a frustração dos paraibanos que queriam ver, em campo, o conterrâneo que fazia sucesso no “sul”. 
Coincidência ou não, o fato é que o Flamengo perdeu a partida por 3×2 para um combinado de jogadores do Botafogo da Paraíba e do Auto Esporte. Talvez como vingança ao fato de não terem assistido o “conterrâneo famoso” jogar, pouco tempo depois, alguns torcedores paraibanos criaram a primeira fake news do futebol da Paraíba: “o Flamengo perdeu na Paraíba com Índio e tudo”.

A carreira de Índio em fotos

Índio, personagem do livro que será lançado em 2022, fez história no Flamengo
Foto do Flamengo em excursão à Europa, da qual Índio fez parte

Fotos: Página do Álbum – Reprodução/Flamengo Alternativo. Demais fotos- Reprodução/Site Terceiro Tempo

Índio foi ídolo do grande rubro-negro Ary Barroso
Índio, em álbum do Flamengo
Índio jogou com craques como Evaristo de Macedo e Garrincha
Índio fez parte do time do Flamengo que conquistou o tricampeonato estadual nos anos 50

Agradecimento: a Fábio Henrique, pela gentileza e disponilidade; Denys Presman, por fazer a ponte entre a Estante Rubro-Negra e o autor.